30 Novembro 2020
Para este Advento particular, o Irmão Émile da Comunidade de Taizé nos dá cinco dicas para que o nosso modo de esperar o Natal nos prepare para uma verdadeira renovação, apesar deste período vencido pela dúvida e pelo medo.
A entrevista é de Etienne Seguier, publicada por La Vie, 27-11-2020. A tradução é de André Langer.
O Irmão Émile é um dos pilares da Comunidade de Taizé. Ele é o autor de um belíssimo livro publicado em junho, À vous de commencer (Cabe a você começar, Presses de Taizé), sobre como Cristo nos convida a tomar a iniciativa nas nossas vidas.
Esta época está ameaçada por uma espécie de pseudo-realismo que achata a realidade e exclui a esperança. Objetivamente, não haveria nada a esperar do ser humano. Agora, precisamos dos recursos da esperança, mesmo que não corresponda a respostas fáceis. Em tempos de provação, duas possibilidades se oferecem a nós: perder a fé ou desenterrá-la. Os textos que lemos no Advento insistem na vigilância, como uma simples fidelidade que mantém o coração pronto para a ação. Vigiar para que o desânimo não nos leva a adormecer como os discípulos no Getsêmani. Não ficar muito impactado e esperar.
Durante os encontros europeus de Taizé em Paris em 2002, um jornalista perguntou ao filósofo Paul Ricoeur qual era a mensagem deste encontro. Ele respondeu: “Não construa sua vida sobre o medo”. Ele queria indicar que, para nos construir, Deus dá algo diferente do medo. É bom aprender o que está acontecendo ao nosso redor, mas também precisamos nutrir uma vida de confiança. Este tempo do Advento pode ser uma oportunidade para aprofundar a vida interior. Cristo nos convida a permanecer na sua Palavra, a enraizar-se nela e a deixá-la germinar em nós. Se olharmos para as raízes hebraicas da palavra “crer”, não se refere tanto a ideias intelectuais quanto a encontrar estabilidade. Tem a mesma raiz da palavra “Amém”, que evoca qualquer coisa de sólido sobre a qual se pode apoiar ao frequentar a Palavra.
Num texto que lemos durante o Advento, o profeta Isaías anuncia: “Ele chega com poder” (Isaías 40, 10), para dizer que o próprio Deus vencerá os obstáculos que nos separam dele. Isaías proclama: “Que todo vale seja aterrado e todo monte e colina sejam nivelados”. Tudo o que se opõe, Deus se encarrega. Sentimos muito bem isso quando escutamos O Messias de Händel, que retoma essa passagem. Durante esta nova quarentena, talvez mais do que durante a primeira, experimentamos nossa impotência, estamos impossibilitados de fazer planos. É uma oportunidade de redescobrir que Deus abrirá os caminhos, que o maná nos será dado dia após dia e o que isso significa. Não sabemos como Ele se manifestará, e isso nos obriga a olhar o que se apresenta, a observar o inesperado de sua vinda, ali onde pensávamos saber tudo e estar no controle.
O tempo do Advento é este tempo em que esperamos que Deus venha habitar entre nós. Na liturgia, esta espera está presente no cântico do Salmo 84 (85) que cantamos três vezes ao dia em Taizé durante estas quatro semanas: “Vou escutar o que diz o Senhor”. O salmo continua: “O Senhor anuncia a paz”. No período atual, podemos ser dominados pelo medo e enterrar nossos talentos, como na parábola, temendo o retorno do Mestre. Ora, este salmo proclama: Deus não tem nada contra nós. Ele está engajado na luta pelo nosso bem. Quando o Papa João XXIII falou dos sinais dos tempos, nunca pensou na desgraça que atinge a humanidade, mas nas novas possibilidades que se apresentam a nós quando a consciência humana se transforma. Neste momento, há uma brecha se abrindo, uma outra sensibilidade que emerge. O Advento nos convida a ver que os sinais dos tempos não estão do lado do infortúnio ou da Covid, mas de uma consciência que nos impele a adotar novos estilos de vida.
Deus não está no infortúnio, mas na criatividade que nos dá para transformar o infortúnio em projeto. O Advento é o momento em que a criatividade amadurece. “A terra deu a sua colheita”, canta outro salmo do Advento, o Salmo 66 (67). Na vida, sempre existe essa mistura das situações pelas quais passamos e das escolhas que devemos fazer. A criatividade deve ser vivida dentro dessas restrições. O Irmão Roger convidava para consentir com a realidade, não para capitular ou resignar-se, mas para não perder as energias vitais na negação da realidade. Alguns perdem energias consideráveis deixando-se enredar em teorias da conspiração e, portanto, são privados da capacidade de agir no mundo real. O Irmão Roger dizia que, para encontrar o olhar de Cristo, é bom consentir: nos próprios limites, nos limites da sua inteligência, da sua fé, mas também nos seus próprios dons, dos quais nascem as forças da criação.
Por Jean-Yves Leloup, escritor, teólogo e sacerdote ortodoxo, que publicou em setembro Métanoïa, une révolution silencieuse (Metanoia, uma revolução silenciosa, Albin Michel).
“Tudo o que é elevado deve ser abaixado, e tudo o que é fundo deve ser elevado”, explica-nos, a respeito do Advento, o precursor João Batista. Tudo se resume a estar atento aos nossos momentos de excesso, de raiva e de revolta.
Devemos preparar nosso terreno para acolher a presença do Espírito que pode se encarnar em nós. Somos todos mais ou menos ciclotímicos, passando por altos e baixos.
Tudo o que é depressivo em nós, todos os precipícios devem ser preenchidos, mesmo que hoje sejamos tentados a desistir.
Ao mesmo tempo, tudo o que é ambição em nós deve descer novamente. Essa noção de humildade refere-se ao húmus, à humanidade, porque ser “humano” é aceitar o nosso barro, nos traz de volta à terra, sem descer “ao subsolo”.
Salomão também nos diz que a sabedoria busca um lugar de descanso nos seres humanos, e, de fato, somos seres inquietos, deprimidos ou excitados que devem encontrar dentro de nós esse espaço de calma e doçura: é aqui que o divino pode se encarnar, que esse despertar pode se manifestar, que o Ser pode realmente se dar.
Aurélie Godefroy
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Como viver o Advento em tempos de quarentena - Instituto Humanitas Unisinos - IHU